PS e PSD exigem direitos de autor à empresa que lançou no mercado o "Glutão", o boneco que mama.
In Inimigo Público
Chama-se bebé Glutão e à primeira vista nada o distingue de outras bonecas do género disponíveis no mercado que choram a pedir alimento. Só que em vez de vir com um biberão, é vendida com uma blusa que a criança pode vestir para simular os seus seios e, desta forma, fingir a amamentação.
Do Reino Unido e dos EUA têm chovido críticas a esta criação da empresa espanhola Berjuán, acusada de promover a sexualidade precoce das crianças mas que se tornou um êxito nos países onde foi lançada. A partir de hoje estará à venda em Portugal.
César Bernabéu, director de vendas da Berjuán, diz que a empresa não entende a "polémica criada à volta de algo que é totalmente natural" e adianta que "antinatural é dar o biberão a um bebé". Adelino Santos, responsável pela Berjuán em Portugal, vai mais longe e defende mesmo que o brinquedo é "bastante educativo", considerando "descabida" a ideia de que promove a sexualidade precoce das crianças que brincam com ele.
A boneca, do género Nenuco, mama, chora para mudar de seio e, no final, arrota. Funciona através de sensores instalados nos seios artificiais, que simulam o movimento de sucção quando lhes são encostados os lábios de plástico do bebé. É hoje um dos brinquedos mais procurados nos EUA, onde Bill O"Reilly, o apresentador da cadeia televisiva Fox e líder de audiências no cabo, a acusou de ser um estímulo à pedofilia. Custa cerca de 40 euros e só em Espanha vendeu mais de 30 mil unidades desde o seu lançamento, em 2009.
Para Mário Cordeiro, professor de pediatria e saúde pública, não há dúvidas de que a amamentação deve ser vista como algo natural, mas nunca como algo "forçado" - e esse, na sua opinião, parece ser o caso. Cordeiro não acredita que a boneca "traga benefícios" às crianças e explica que "a banalização de coisas importantes pode mesmo estragá-las".
"Uma coisa é ver outra pessoa e aprender com o que se vê, outra é praticá-lo, numa idade desadequada. Cada coisa de sua vez e o percurso do desenvolvimento da sexualidade, que começa à nascença, faz-se por etapas, sem forçar nenhuma e admitindo o ritmo próprio de cada uma", explica. Tudo resumido, o conceito do bebé Glutão parece-lhe "um bocado bizarro e até pateta".
Carlos Amaral Dias, médico psiquiatra e psicanalista, tem uma opinião diferente. A começar pela ideia de que o boneco promove alterações na sexualidade e até a gravidez na adolescência, como defendeu O"Reilly, o que é "um disparate que carece de investigação". O médico admite que o boneco "pode, eventualmente, estimular um certo tipo de sexualidade infantil", mas desvaloriza a situação, considerando-a normal.
Sobre a mini-blusa que é vendida com a boneca, e onde duas pequenas flores em tecido simulam os dois seios, Amaral Dias diz que as crianças têm "consciência da imagem corporal". Já Mário Cordeiro considera "ridícula" a ideia da blusa e, em tom de brincadeira, relembra o filme Uns Compadres do Pior, "em que o Robert de Niro tinha uma blusa com uma maminha feita à semelhança da da filha, onde punha leite, para dar de mamar ao neto quando ficava com ele".
Os pais, contudo, parecem estar a reagir bem ao novo brinquedo e o volume de vendas, diz César Bernabéu, prova que a maioria vê com normalidade a possibilidade de as crianças simularem a amamentação. O director de vendas da Berjuán garante que todos os anos a empresa continuará a lançar no mercado novos assessórios para ajudar a dar de mamar ao bebé Glutão.
In Jornal Público
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