domingo, janeiro 22, 2012

MISÉRIA - A. Silva Pinto

"Era já noite cerrada
Diz o filho: - "Ò minha mãe,
Debaixo daquela arcada
Passava-se a noite bem!"

A cega, que todo o dia
Tinha levado a andar,
As tais palavras do guia,
Sentiu-se reanimar.

Mas saltam doius cães de gado
Que eram como dois leões!
Tianha-os à porta o morgado
Para o guardar dos ladrões.

Tornam os pobres à estrada,
E aonde haviam de ir dar?
Ao Palácio da Tapada.
Onde o Rei ia caçar.

À ceguinha meia morta
Torna o filho: - "Ò minha mãe,
Ali num vão de uma porta
Passava-se a noite bem!"

"Se os cães deixarem ... (Diz ela,
Num triste, riso amargo);
Com efeito, a sentinela:
-Quem vem lá? .... "Passe de largo!"

ceguinha e filho,
Vendo a sua esperança vã,
Deitaram-se no caminho
Até ao romper da manhã! ...."

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