sexta-feira, novembro 26, 2010

OU ISTO OU EXACTAMENTE O CONTRÁRIO


No que diz respeito às opiniões de Teixeira dos Santos, o leitor é matutino ou vespertino?

6:01 Terça feira, 23 de Nov de 2010

Qual é a posição do leitor relativamente à tolerância de ponto em Lisboa durante a cimeira da NATO? Concorda com o Governo, que dá tolerância de ponto, ou com o presidente da câmara, que não dá tolerância de ponto? Vai ficar em casa, beneficiando da tolerância de ponto decretada pelo governo, ou vai trabalhar, obrigado pela intolerância de ponto decretada pelo presidente da câmara? Considera, tal como o Governo, que se os funcionários públicos forem trabalhar o caos se instalará na cidade, ou acredita, tal como o presidente da câmara, que se os funcionários públicos não forem trabalhar o caos se instalará na cidade?

E quanto à necessidade de Portugal pedir ajuda externa para superar a crise? Concorda com Teixeira dos Santos, que disse à Reuters que o pedido de ajuda não está iminente, ou com o mesmo Teixeira dos Santos, que afirmou ao Financial Times que o risco de Portugal pedir ajuda é muito elevado? Prefere a posição que o ministro das Finanças tomou na segunda-feira de manhã ou a que defendeu na segunda-feira à tarde? No que diz respeito às opiniões de Teixeira dos Santos, o leitor é matutino ou vespertino? Ou prefere integrar-se numa terceira via de cidadãos que discordam tanto do Teixeira dos Santos matinal como do vesperal, mas aderem às posições do ministro quando, entre a manhã e a tarde, está a fazer a sesta?

Só para terminar este pequeno inquérito: o leitor concorda com o ministro dos Negócios Estrangeiros, que diz que o Governo deve coligar-se com a oposição, ou com a oposição, que diz que o Governo deve governar sozinho? Prefere a oposição no Governo, como defende o Governo, ou acha que é melhor para o País que o Governo se mantenha no poder sozinho, como defende a oposição? Admira mais a generosidade do Governo, que admite partilhar o poder com a oposição, ou a integridade da oposição, que deseja respeitar a vontade dos cidadãos expressa nas urnas e pretende manter-se fora do Governo?

Não é fácil ser um cidadão informado. Portugal apresenta-nos tantas alternativas, e todas tão boas, que é difícil tomar uma decisão. Ainda assim, e para fornecer aos leitores ao menos uma orientação, aqui ficam as minhas escolhas: no que diz respeito ao primeiro dilema, defendo que os trabalhadores se dirijam ao local de trabalho, obedecendo ao presidente da câmara, mas que se comportem como se houvesse tolerância de ponto e não mexam uma palha, respeitando a vontade do Governo. Sobre a questão da ajuda externa, proponho que se dê atenção apenas àquilo que Teixeira dos Santos diz à Reuters e não ao Financial Times, uma vez que não aprecio a imprensa cor-de-rosa. E quanto ao problema da coligação, penso o mesmo que o ministro das Finanças: de manhã, acho que sim; à tarde, acho que não.


RICARDO ARAÚJO PEREIRA - BOCA DO INFERNO - REVISTA VISÃO

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